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Exemplo de jaqueta da Patagonia feita com plástico reciclado.

Patricia Sant’Anna

Há duas semanas, discutimos aqui no blog o imenso problema do plástico. As quase 8 bilhões de toneladas de material já produzidas pela humanidade desde o início do século XX continuam ainda, de alguma forma, no ambiente, causando enorme impacto em aterros e nos oceanos. Enquanto instituições, governos, indústria e, provavelmente mais a frente de todos, os consumidores tentam procurar soluções para diminuir o uso deste material - principalmente no uso descartável - existem iniciativas que tentam prezar por reciclar o plástico. Lidar com o lixo que já está presente.


Especificamente na indústria da moda, o plástico tem um papel crucial, desde a composição dos tecidos e aviamentos até as embalagens e comunicação visual. Rever a relação dela com o plástico é essencial, ainda mais se falando de uma das indústrias de maior impacto ambiental no planeta.



A moda pode rever seu uso intensivo de plástico em várias de suas frentes. Uma delas é basicamente a reciclagem do material, para não buscar mais fontes “cruas” (petróleo) nas suas fontes naturais e reaproveitar o que já está causando impacto no ambiente. Outra seria a alternativa ao plástico na composição de tecidos, uma vez que o problema do microplástico nos produtos de vestuário (mesmo o reciclado) é invisível e extremamente nocivo. E, em terceiro lugar, acreditamos que o problema das embalagens também deve ser pontuado.


Empresas e profissionais de moda não podem mais fingir que o problema não existe, ou praticar o famigerado “greenwashing”. As soluções podem não ser perfeitas, mas é necessário buscá-las.


Reciclagem do poliéster.

Já existem no mercado há muito tempo estes materiais, como os tecidos de malha 100% poliéster feitos a partir de PET reciclado. Ou então novas roupas que surgem a partir de roupas usadas e já descartadas, com a finalidade de retirar o material de seu descarte e recoloca-lo no mercado, gerando menos lixo. As pesquisas da implementação da moda na lógica da economia circular, ou seja, do processo produtivo que não gera descarte, estão na mira de muitas marcas e empresas grandes. Desde que a Fundação Ellen McCarthur tomou a frente do debate, o tema tem sido cada vez mais tratado na moda. Empresas que não buscarem soluções no futuro próximo certamente ficarão para trás.


A Adidas, que está entre as marcas globais de sportswear, streetwear e footwear que causam grande impacto ambiental e social, tem tomado a frente de soluções sustentáveis. Este ano, foi lançada tanto uma coleção com tecidos sustentáveis (em parte reaproveitados), em parceria com Stella McCartney, quanto uma coleção de tênis feitos com plástico reciclado retirado dos oceanos. Todo o processo é divulgado pela marca para o consumidor.


A marca de sportswear/streetwear alemã tem os princípios da economia circular como norte das ações de sustentabilidade da empresa. Segundo o que James Carnes, diretor global de Brand Strategy, divulgou para a imprensa, que a Adidas estabeleceu três passos em direção ao futuro sustentável da marca: primeiro, e o passo em que estão agora, é criar produtos com lixo plástico reciclado. O próximo desafio é eliminar completamente o conceito de resíduos. Por fim, o último passo, é explorar maneiras de criar produtos que possam ser completamente recicláveis ou biodegradáveis.


A Patagonia é certamente a pioneira em primar por ações sustentáveis. Em 1993, a marca californiana lançou sua primeira jaqueta feita a partir de garrafas recicladas. Em 2011, sua provocativa campanha “Don’t buy this jacket” foi um exemplo ainda pouquíssimo seguido por marcas de moda - colocar a comunicação da empresa em foco no consumo desacelerado, no reuso e no reparo de roupas e itens que já estão no armário. Hoje, a Patagonia tem investido no posicionamento cada vez mais radical, seja financiando ONGs do setor, seja se contrapondo ao cinismo ambiental da administração Trump. A redução da emissão de carbono é um de seus principais alvos atualmente, com a CEO Rose Marcario, certamente de olho no Acordo de Paris.


A marca também tem como diferencial apontar quais são os erros que causam impacto ao meio ambiente em sua cadeia produtiva e o que está fazendo para combatê-los, algo que poucas empresas têm “coragem” para fazer. Um posicionamento semelhante tem a Veja (ou Vert Shoes, no Brasil), empresa franco-brasileira de produção de tênis sustentáveis. Colocar que a transparência é o primeiro passo da moda que tem como objetivo a sustentabilidade - o greenwashing não vai funcionar por muito tempo, aliás, não funciona mais, principalmente com o consumidor da geração Z, que é engajado, informado e ativista.


Microplásticos.

Mas o problema do poliéster na composição dos tecidos vai além da possibilidade de sua reciclagem. A indústria têxtil e confeccionista contribui de maneira significativa para a presença dos chamados microplásticos nos oceanos - minúsculas partículas que formam uma contaminação perversa e silenciosa (e contribui em maior parte para a Grande Mancha de Lixo do Pacífico, como mostramos no post anterior).


As roupas com poliéster na composição liberam micropartículas do material a cada lavagem. Com o descarte da água nos sistemas de esgoto, rios e, consequentemente, nos oceanos, contribui com a formação de cada vez mais camadas de plástico nestes ambientes. Ao contrário de materiais plásticos que podem ser separados e recolhidos, os microplásticos como os que provêm das roupas de poliéster dificilmente podem ser separados e recolhidos. É também uma ameaça concreta a saúde humana, uma vez que podemos ingerir essas partículas por meio dos peixes e outros animais marinhos que consumimos como alimento.




Deixarmos de usar roupas de poliéster, embora bastante desafiador (devido à sua resistência, praticidade e acessibilidade), seria uma das alternativas. Por outro lado, esta questão deve ser medida em relação ao uso de plástico reciclado na composição de novas roupas, como os exemplos da Patagonia e da Adidas. A questão da sustentabilidade é sempre causar o mínimo impacto possível, e não almejar o zero impacto. Tanto nos casos das empresas quanto dos consumidores, como diria o ditado, “o feito é melhor que o perfeito”: não buscar constantemente as soluções de mínimo impacto é que é o problema.



Materiais têxteis: propostas sustentáveis.

A reciclagem do plástico, embora necessária, só pode resultar no downcycling, ou seja, na diminuição da qualidade do produto original. Além disso, pelo mesmo motivo, o plástico pode ser reciclado somente duas ou três vezes, e depois será definitivamente descartado. No entanto, o mesmo não acontece com outros materiais têxteis. Algumas empresas investem na reciclagem do tecido de algodão, tanto para gerar menor descarte, quanto para tentar diminuir a produção do algodão desde o começo do processo - toda a cadeia produtiva das roupas de algodão tem em geral um gasto imenso de água, por exemplo.


Outras fibras, mesmo sintéticas, não são tão nocivas. Ao contrário do poliéster, a poliamida-6 pode ser reproveitada infinitamente, se devidamente isolada e passada por um processo de reciclagem química (e não a mecânica – que é mais barata e a única ainda utilizada no Brasil). Isso exige, é claro, preparo das empresas e investimento. Desde 2014, a empresa japonesa Asahi-Katie conseguiu pela primeira vez fazer a reciclagem do elastano, criando mais uma possibilidade de reaproveitar um material sintético bastante utilizado na indústria têxtil-confeccionista.


Mas, além da reciclagem, existem inúmeros tecidos que tentam substituir o uso de plástico devido à preocupação com microplásticos no ambiente. Algumas possibilidades são:


  • Liocel. A alternativa mais sustentável a viscose, feita a partir da fibra de bambu em ambientes controlados, existe há muito tempo no mercado e pode ser mais amplamente usada pela indústria da moda.

  • Fibra do abacaxi. A fibra e usada há séculos na região das Filipinas, mas no contexto do comércio colonial e das Revoluções Industriais ela perdeu espaço para o algodão, mais fácil de cultivar em quase qualquer microclima do mundo. Hoje, o uso da fibra do abacaxi torna-se uma possibilidade com ares tecnológicos, principalmente no exemplo do “couro” feito a partir deste material, intitulado Piñatex.

  • Seda vegana. A seda “vegana” - na verdade, um filamento com aspecto de seda produzido a partir da casca de laranja -, já é realidade em alguns produtos da Salvatore Ferragamo, por exemplo. Ela vem suprir a demanda do mercado de luxo por opções veganas, mas com aspecto nobre muito semelhante ao tecido original e sem a utilização de plástico.


O problema das embalagens.

Por fim, o problema do plástico se coloca também como um problema em relação às embalagens. Neste caso, é preciso pensar que existem duas frentes a se considerar: as embalagens B2C e as B2B. A primeira se refere a sacolas, caixas e pacotes de lojas físicas e online (e-commerces). A segunda, são capas protetoras, caixas, sacolas, cabides e outros acessórios utilizados pela indústria e o varejo para transportar, proteger e conservar os produtos. (observação relevante: embora tenhamos focado mais no vestuário, a indústria da beleza também tem um problema em embalagens, inclusive, de aumento do uso de microplásticos).


O problema do plástico descartável é uma questão que envolve qualquer indústria, de canudinhos a sacolinhas de supermercado. Algumas cidades, estados e até países vão fechando o círculo e proibindo cada vez mais o uso de itens de plástico descartável. Por exemplo, canudinhos plásticos não são mais permitidos em estabelecimentos comerciais nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro. Algumas cidades brasileiras também o proíbem, como Fortaleza, Belém, Goiânia e Porto Alegre, para ficar só entre algumas capitais. No âmbito dos países, tanto o Canadá quanto toda a União Europeia planejam proibir completamente qualquer embalagem de plástico descartável até 2021 (depois de amanhã, isto mesmo).


A Fundação Ellen McCarthur e a ONU criaram este mês, pela primeira vez, um compromisso global com a diminuição do uso de plásticos descartáveis – você pode ler na íntegra aqui . Com a assinatura de 19 governos e mais de 200 empresas (que, juntas, representam aproximadamente 20% do plástico usado no mundo), a Fundação estabeleceu uma lista para identificar uso de embalagens de plástico (ou com o plástico como um de seus componentes) que são excessivas ou desnecessárias:


  1. Não é reutilizável, reciclável nem pode ser deteriorada em compostagem;

  2. Possui, ou sua produção exige, produtos químicos que têm risco significativo para a saúde humana ou ao meio-ambiente;

  3. Pode ser evitada (ou substituída por uma embalagem reutilizável) enquanto ainda mantém sua funcionalidade;

  4. Impacta a reciclagem ou compostagem de outros itens e

  5. Tem grande probabilidade de ser incinerada ou ser descartada no meio ambiente.


Pense nas embalagens e outros itens utilizados na sua empresa. Eles correspondem aos critérios acima? Talvez seja hora de mudar.


É claro que a mudança não é simples. Na NEONYT deste ano, a maior feira de moda sustentável do mundo, realizada em Berlim, Alemanha, o tema foi explorado em dois painéis de discussão reunindo alguns empreendedores e profissionais ligados a moda sustentável (você pode ouvir os painéis completos no Podcast da NEONYT). Embora atualizados na discussão, muitos deles admitiam que ainda não haviam encontrado boas soluções para embalagens, principalmente se tratando do B2B. Por exemplo, existem sacos de “pergaminho” (embalagens 100% papel, mais resistentes, que podem ser totalmente transparentes, como o plástico), mas que, a longo prazo, seria uma solução apenas paliativa, como o plástico, já que ainda é uma embalagem descartável.


Ao mesmo tempo, a indústria da moda possui fornecedores no mundo inteiro, e uma coisa é certa: todos possuem embalagens de plástico, que é acessível e barato. O problema da embalagem de plástico na indústria da moda precisa de soluções globais.

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Patricia Sant’Anna


O varejo do futuro – 2020 – é compacto, rico em tecnologias, [e dentro do possível] com muita diversão.”

Jean Paul Rebetez, especialista em retail


Assim pode ser definido como deve ser o varejo no futuro próximo, em 2020. O varejo compacto se refere à sustentabilidade (fazer mais com menos, ter um posicionamento consciente) e também à efetividade das ações. Consumidores contemporâneos ignoram marcas que vão contra seus valores, por isso, o posicionamento sustentável é imprescindível.


Novas tecnologias são incorporadas, mas não devem ser usadas à toa, mas sim dentro da estratégia de encantar e agradar o cliente ao máximo. Por fim, a diversão: comprar é uma experiência, divertir-se é um luxo!


Existem alguns fatores importantes para considerar na hora de planejar o varejo atual. Veja as principais tendências para varejo em 2020.


Tempo e espaço.

Ajude seu cliente a comprar! O tempo se torna mais escasso e o espaço perde relevância – com a digitalização da vida, on e offline se tornam praticamente a mesma experiência, especialmente para as gerações mais jovens. Com isso, o varejo deve oferecer flexibilidade para se adequar à jornada do cliente.


Consumidores (shoppers) são intolerantes com tempo de espera. Por isso, a dica é conseguir coordenar on e offline de tal maneira que o cliente tenha a sensação de que quando ele quer, ele consegue adquirir o produto ou serviço.


É preciso destacar também que o cliente muitas vezes está comprando tempo: se este não estiver otimizado na sua loja, ele certamente irá buscar outro lugar. O imediatismo deve ser levado em conta – resolva o problema do cliente naquele instante, ou ele irá buscar outro lugar. Não é à toa que métodos de pagamento digitalizados se tornam cada vez mais agilizados. O atendimento deve levar em conta a mesma rapidez. Ao mesmo tempo, a inteligência artificial pode ajudar a criar experiências ultrapersonalizadas e, com isso, poupar o tempo do cliente com o que não interessa.

Stitch Fix, serviço de assinatura de entrega de roupas. Trabalhando o “small data” para oferecer só o que é imprescindível para o cliente.


O fator humano faz toda a diferença!

Comprar tempo não significa que as relações humanas devem ser desprezadas. Nem ao menos no digital: cada vez mais o varejo online se adequa criando equipes de atendimento personalizadas. Mesmo as tecnologias devem ser humanizadas. Comprar tem que ser uma experiência agradável.


Inovando na cadeia de valor.

Uma vez que a fidelização dos clientes se torna cada vez mais difícil, talvez impossível – consumidores da geração Z não se fidelizam às marcas – construir a experiência de varejo que atraia os clientes é um exercício constante de criatividade e inovação. Fazer melhor do que os outros se torna imprescindível. O atendimento amplificado auxilia o cliente a otimizar aquele tempo que ele não quer perder. Atente-se também para a Economia da Colaboração, e da cocriação entre cliente e empresa para que o produto ou serviço que seja a cara dele.


Divertimento é um luxo!

Muitas vezes a tecnologia acaba por trazer novas tarefas às pessoas, por isso, todo e qualquer espaço de entretenimento e diversão é bem-vindo! Tudo o que é personalizado pode ser compreendido como ‘mimo’, e os clientes, sobretudo os mais atarefados, amam esse tipo de tratamento.



Identidade é tudo!

Sua marca/loja precisa ter identidade, isto é, precisa se diferenciar em relação às outras do seu mercado, sobretudo, do mercado direto. Toda a identidade visual, coleção, atendimento e experiência de loja precisam ser coordenados em um só fio condutor.


Tenha coragem (e coração) para ser diferente, para ser realmente você!


Varejo e valores.

Consumidores são cada vez mais questionadores sobre as decisões tomadas para construção do PDV (ponto-de-varejo). Prepare-se para clientes que desejam saber até o tipo de energia ou modelo de lâmpada que você usa na sua loja, ou mesmo, como o lixo é recolhido. Aliás, você ainda usa sacola de plástico?


Por ser conectado, o consumidor é empoderado, e ele sabe cada vez mais disso. Fique atento a essa mudança.


Além disso, os consumidores contemporâneos filtram tudo para uma realidade que é a deles. Perguntam constantemente: “isso funciona para mim”? Eles agem de maneira independente, não se referenciam às marcas como as gerações anteriores. O mote é: “se está no meu escopo de valores, então é algo que me interessa”! As marcas precisam se reinventar.


Quer ver mais informação como esta, atualizada para 2021? Participe do 16o Seminário de Tendências, evento que mostra em primeira mão os resultados de pesquisa de tendências da Tendere em varejo, comportamento de consumo, moda, arquitetura, decoração, beleza e mais. Inscreva-se em: https://www.tendere.com.br/blog/seminario-de-tendencias-inverno-2021

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Instalação “Over Flow”, de Tadashi Kawamata, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia de Lisboa. Foto: Martjn Baudoin no Unsplash

Patricia Sant''Anna


A ciência, os números, os especialistas alertam para o excesso de lixo plástico, que está causando danos gigantescos e potencialmente irreversíveis ao planeta. Como não há previsão de quanto tempo levaria para o material se deteriorar, literalmente todo o plástico já produzido na história está presente no ambiente, de alguma forma. São mais de 8 bilhões de toneladas desse lixo no mundo. Apenas 9% foi reciclado. Estima-se também que 12% foi incinerado, o que causa danos iguais ou piores que o lixo sólido descartado. Se o ritmo de produção e descarte continuar, serão 12 bilhões de toneladas de plástico.


Nos oceanos, a situação é especialmente crítica. Apesar da maioria do lixo produzido no mundo estar em aterros – quase 90% dele – é nos mares que vemos o impacto mais evidente e, pior, o quanto o lixo, em especial o plástico, impacta ecossistemas inteiros. Mortes de animais marinhos e de aves por ingerir ou se ferir com peças de plástico são tristes notícias bastante comuns e divulgadas.


A Grande Mancha de Lixo do Pacífico, formada devido às correntes marítimas, é um exemplo. A maior parte da mancha não é, no entanto, o que se poderia imaginar – uma grotesca e grande ilha formada por lixo sólido, visível. Seu perigo é bem menor e mais pernicioso: a maior parte é formada por pedaços minúsculos de plástico (chamados de microplástico) devido à deterioração do material, em grande parte por ação do sol (fotodegradação). E ele é muito mais difícil de detectar e separar da natureza. Eventualmente, o microplástico ingerido por peixes e outras espécies marinhas utilizadas para o consumo humano pode ir direto para os nossos organismos, ocasionando também um grande problema de saúde mundial.


Por que plástico?

O plástico é um material versátil, leve, flexível, resistente e barato - por isso seu uso intensivo e muito diversificado. O problema do plástico em comparação a outros materiais nocivos é que o produto tem um ciclo de vida muito curto e já é descartado. O tempo médio de uso de uma sacola plástica, por exemplo, é doze minutos.


Mesmo com números tão alarmantes, há quem duvide da situação atual quase tanto quanto da catástrofe climática. Porém, a tendência dos “negadores” das tragédias ambientais não tende a durar. Greta Thunberg é um exemplo máximo de uma geração bastante engajada, que fala e quer ser ouvida, e toma atitudes bastante radicais para tanto. Cada vez mais o comportamento do consumidor, bem como suas exigências, vão para o caminho da sustentabilidade ambiental e social, e o plástico não está excluído das pautas. Isso com certeza cria um cenário mais otimista.


É preciso mudar nossa relação com o plástico, tanto por partes das empresas quanto dos consumidores. Se é um material tão versátil e resistente, porque utiliza-lo de maneira descartável? No caso das diferentes indústrias e suas redes produtivas, cada uma deve criar suas soluções para resolver uma grande crise. Retirar as sacolas de plástico do supermercado e do varejo é uma das ações, que são necessárias. Mas outras precisam ser tomadas, aprofundando ainda mais o debate e unindo consumidores e empresas diante desse impasse.

Nos oceanos, as peças de plástico podem ser decompostas em inúmeras partículas por fotodegradação: formam-se os microplásticos.


A reciclagem.

Mesmo que alcançássemos um cenário ideal e a produção de plástico no mundo fosse drasticamente diminuída, ainda resta uma questão: o que fazer com todo este plástico que já está aí?


Reciclar é a única maneira de reverter o dano ambiental que já foi causado. Além da limpeza dos ambientes que o plástico está contaminando, seu reaproveitamento para outros fins é a maneira de lidar com o lixo que já temos.


Reciclar plástico não é uma das tarefas mais fáceis, e principalmente por causa da viabilidade e gestão desse processo. Mesmo no Brasil, o número 1 mundial em reciclagem de alumínio – cerca de 98% desse material, principalmente formado por latinhas, é reciclado – perde na hora da reciclagem de plástico. Uma das justificativas pode ser o preço e a viabilidade. Enquanto o quilo da latinha chega a custar R$5,00, o do plástico custa apenas R$1,00. Para catadores e empresas de reciclagem, pode ser simplesmente um material que não compensa. Além disso, é preciso gerir a questão do plástico que se torna impróprio para a reciclagem por uma série de motivos, como o excesso de sujeira.


Já os Estados Unidos e na União Europeia vivem uma verdadeira crise da gestão do lixo plástico. A maior parte de sua reciclagem (junto com papel e vidro) era feita por empresas chinesas – 60% dos gerados nos EUA e mais de 70% dos da União Europeia. Literalmente, a China importava lixo, destinado a suas empresas de reciclagem. Como o país fechou as portas para o lixo plástico do Ocidente com uma legislação mais rígida no começo de 2018, que restringiu o lixo a ser importado com regras muito fixas de contaminação, isso gerou uma verdadeira crise, e os países desenvolvidos buscam outros locais para exportar o lixo, a maioria no sul asiático. Mas mesmo estes já estão saturados com o material plástico do Ocidente, especialmente porque esses países exportam também plástico impróprio para reciclagem (por exemplo, sacolinhas plásticas ou canudos, que não podem ser reciclados). No final de maio, o Canadá recebeu “de volta” 1,5 toneladas de lixo plástico impróprio que havia sido enviado para as Filipinas (um impasse entre os dois países desde 2014).


Mesmo com tantos desafios, reciclar ainda é a melhor maneira de lidar com este material. Existem inúmeras empresas e iniciativas que, embora estejam em nível bastante experimental, propõem lidar com este problema das bilhões de toneladas de plástico.


Boas iniciativas para lidar com o problema.

A Ocean Clean Up é uma empresa de recolhimento e reciclagem de plástico. Seu principal alvo é a Grande Mancha do Pacífico – uma máquina com uma rede de mais de 180 metros de comprimento flutua à deriva no mar e recolhe o lixo. A rede é preparada para recolher desde peças maiores até microplásticos.


Fundada pelo holandês Boyan Slat em 2013, foi no começo deste mês que a coleta foi bem-sucedida pela primeira vez. A empresa pretende enviar o lixo para reciclagem e o que não puder ser reciclado irá ser queimado para geração de energia.


No Brasil, a corporação norte-americana de produtos químicos Dow fez uma parceria com a start-up brasileira Boomera para reciclagem de plástico. O processo consiste em desenvolver uma resina termoplástica a partir de embalagens PET recicladas. Investir em uma cadeia de valor para que o material plástico realmente chegue às usinas de reciclagem e de transformação é um dos objetivos – por isso, a parceria com grandes empresas pode ser eficaz.


Outro exemplo que torna este cenário caótico mais otimista é que cada vez mais são desenvolvidas tecnologias para reciclar tipos de plástico que anteriormente não era possível, como os chamados “plásticos não puros”. A empresa alemã Biofabrik já recicla uma gama maior de plásticos para os transformar o lixo em combustíveis. Os compostos dos resíduos plásticos são quebrados por altas temperaturas e transformado em um composto (que pode ser líquido ou gasoso) pode ser usado para abastecer motores marítimos, ou em geradores para ser convertido em energia elétrica.


Com o descarte tão efêmero de um material como o plástico, é importante encontrar soluções para as indústrias mais pesadas, de bens mais duráveis. A iniciativa da empresa holandesa VolkerWessel, chamada PlasticRoad, se dedica a usar plástico reciclado como componente para asfaltos - inclusive, como uma alternativa mais resistente e durável que a do asfalto tradicional. Anunciado em 2015, o PlasticRoad teve sua primeira implementação em setembro do ano passado: uma ciclovia de 30 metros (que utilizou 218 mil copos de plástico e 500 mil tampas de garrafa plástica) foi feita em Roterdã com o novo material.

Exemplo de bloco de construção da ByFusion.

Outro exemplo de longa duração: os blocos para construção da neo-zelandeza ByFusion. Ainda em processo de experimentação, a empresa visa substituir os blocos de concreto pelo plástico reciclado. Além do reaproveitamento de resíduos, a iniciativa deve reduzir a pegada de carbono (que seria do concreto) em até 95%! Boas ideias e pesquisas têm surgido na indústria de construção civil, que, embora ainda não tenham sido implementadas completamente, mostram um panorama mais otimista e preocupação da indústria em reverter o problema do plástico.


Na moda, inúmeras iniciativas já pensam em reciclagem de plástico, com destaque para a produção de calçados. Num próximo post, iremos abordar a responsabilidade, as possibilidades e as iniciativas já implementadas no mundo da moda para lidar com o enorme, mas solucionável, problema do plástico.

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