Vivian Berto de Castro
Por meio do K pop e do K drama, a Coreia do Sul tem se tornado, nos últimos anos, uma referência importante de moda, beleza e mesmo de comportamento, em especial para a geração Z. O que iniciou com alcance de nicho já percorre diferentes públicos e mesmo quem não se identifica necessariamente com os produtos da indústria de entretenimento pode ser sensibilizado de alguma forma.
A chamada Hallyu ou Korean Wave, como ficou conhecida a “febre” coreana, foi um termo cunhado pela imprensa chinesa no começo dos anos 2000 para se referir à forte influência sul-coreana entre os jovens urbanos do país. Se refere aos produtos de entretenimento, em especial seriados de TV (K-dramas) e bandas de música pop (K-pop). O que começou com os países vizinhos asiáticos se espalhou para o restante do mundo.
Esse tipo de influência não se desenvolveu por acaso na Coreia do Sul, mas sim foi parte de uma espécie de planejamento governamental para aumentar a influência do país no exterior por meio do soft power, ou o poder da indústria do entretenimento. Vale dizer que a Coreia do Sul passou boa parte do século XX em regimes militares autoritários, e só obteve sua democratização em 1988 - ou seja, passou a construir seu “império” apenas depois disso. O país asiático também é um bom exemplo de smart power, ou seja, reunir o soft com o hard power (o poder econômico-político). Gigantes coreanas como a Samsung são exemplos disso.
No Brasil, como em muitos países do mundo, a longa lista de títulos coreanos na Netflix cresce ao mesmo tempo em que mais bandas K pop se apresentam por aqui. Eventos reúnem jovens para se vestir e dançar coreografias de “passinhos” conforme seus ídolos fazem nos videoclipes, que têm milhões de acessos no YouTube (um dos mais vistos, o hit DDU-DU DDU-DU da banda Blackpink, lançado em junho do ano passado, soma quase 900 milhões de visualizações).
O universo coreano sensibiliza jovens do Ocidente que não teriam, por outro meio, outras referências asiáticas. Eles adotam moda, padrões de beleza, gestualidades, comportamento, enfim, tudo o que os sensibiliza de alguma forma. Por isso, é impossível pensar o consumo da geração Z de forma assertiva sem passar pelas referências e efeitos da Hallyu.
Dica da Tendere: nunca assistiu a uma série de K drama e não sabe por onde começar? Assista a Dramaworld (2017), uma série disponível na Netflix. O plot é que uma menina norte-americana, fã de cultura coreana, vai parar dentro de um K drama. A série brinca (e mostra) com a fórmula desse tipo de entretenimento e é uma boa porta de entrada para se familiarizar com o gênero.
Mercado de moda local
O streetwear, quase onipresente na moda da geração Z, também ganha público cativo na moda coreana. O país é o segundo maior consumidor da marca Vetements (que influenciou muito do que vemos do que é popular do streetwear atualmente), ficando apenas depois dos Estados Unidos, segundo uma matéria do Business of Fashion. A Vetements e algumas marcas consolidadas europeias (Gucci, Balenciaga, Burberry, Hermès) conseguem entrar com sucesso no rico e prolífico mercado sul-coreano, mas a preferência mesmo é por marcas locais. Estas se adaptam tanto ao gosto quanto ao biotipo do mercado coreano.
Entre as locais, há as populares “SPA Brands” (sigla para Speciality retailer of Private label Apparel), que são as concorrentes locais de fast fashion como H&M e Zara - mais uma vez, com a vantagem do local sobre o global das gigantes da moda rápida. E-commerces de moda rápida e acessível são Stylenanda e Imvely, que também entregam em outros países ao redor do mundo.
O que vemos também é um crescimento do interesse do mercado internacional pelas marcas locais. AMBUSH (streetwear) e Gentle Monster (eyewear) já são marcas locais bastante consolidadas no cenário internacional. A Seoul Fashion Week cresce a cada edição e já é vista (e acompanhada) como uma das grandes semanas de moda fora do circuito principal de moda. O streetwear com uma leve pegada “sem gênero”, seguindo um estilo semelhante ao da AMBUSH e de algumas marcas mais tradicionais japonesas, é o que tem feito algumas jovens marcas locais se destacarem no mercado global.
Pensar a moda
Moda é uma das referências que primeiro chega aos olhos dos jovens que seguem celebridades, bandas e, especialmente, seriados sul-coreanos. E há elementos que aproximam e que afastam essas referências da nossa realidade, brasileira e do hemisfério sul como um todo.
A moda coreana é casual, prática. Para as mulheres, essa casualidade se traduz em tecidos casuais - malhas e jeans se sobressaem. A sensualidade também está quase sempre presente, seja em cinturas marcadas, seja em comprimentos mínimos.
No masculino, as formas ajustadas (principalmente em camisas e calças) e o uso de cores são pontos de confluência. Ainda vale destacar que os homens coreanos têm um padrão de beleza interessante – o quanto mais delicados forem os traços e roupas, melhor. Isso coloca um outro tipo de elegância e sensualidade que reflete as formas como vemos o masculino, bem diferente do padrão da América Latina, mas que já reflete na geração Z daqui.
Estudar e entender o que configura a moda jovem e da indústria do entretenimento coreanas é de extrema importância para entender a geração Z e o que a está sensibiliza atualmente.
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