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O Bem-Estar Financeiro

Existe uma relação direta entre dinheiro e realização pessoal?

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Foto por Clay Banks no Unsplash

Victor Barboza


Se você ganhasse muito dinheiro na loteria, como você usaria o prêmio? A primeira coisa que vem na cabeça da maioria das pessoas é relacionada a gastos envolvendo lazer e status, como compra de carros, imóveis e viagens. Porém, várias pessoas que ganharam o prêmio, mesmo com todos estes itens, continuam frustradas. Será que há uma relação direta entre dinheiro e bem-estar?


Antes de mais nada, sabemos que todos os seres humanos possuem necessidades. Quando perguntado, cada indivíduo acaba tendo uma visão diferente das suas necessidades, e atribui as diferentes pesos para cada uma delas, muito em função do contexto e da realidade em que está inserido.


A hierarquia das necessidades

Para entender melhor esta questão das necessidades, o psicólogo norte-americano Abraham H. Maslow, na década de 50, criou a hierarquia das necessidades, mais conhecida como Pirâmide de Maslow. O grande objetivo de Maslow foi de determinar o conjunto de condições necessárias para que um indivíduo alcance a satisfação. E a perspectiva desta satisfação, para Maslow, é justamente o que motiva cada pessoa.


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Pirâmide de Maslow (https://www.coachilla.co/blog/the-new-hierarchy-of-needs)

A figura acima representa a Pirâmide de Maslow. Nela, cada nível da pirâmide representa uma hierarquia, sendo as mais básicas na base, avançando até as mais elaboradas, no topo. As necessidades base são aquelas consideradas necessárias para a sobrevivência, enquanto as mais complexas são as necessárias para alcançar os máximos níveis de satisfação, tanto pessoal quanto profissional.


Assim, temos os seguintes níveis da pirâmide, listados de baixo para cima:


  • Fisiológicas: são as necessidades mais básicas, necessárias para garantir a sobrevivência e manter o corpo saudável. São exemplos destas necessidades: alimentos, água, ar, sono.

  • Segurança: envolve as sensações necessárias de proteção. São exemplos de necessidade: abrigo e estabilidade.

  • Amor e Relacionamentos: são as necessidades relacionadas com o senso de pertencimento e intimidade. São exemplos: amizade, família, relacionamentos.

  • Estima: é a necessidade de sentir-se estimado e reconhecido. São exemplos: autoestima, confiança e respeito.

  • Realização Pessoal: são as necessidades mais complexas do ser-humano. São necessárias para que o indivíduo alcance a verdadeira realização pessoal e profissional. São exemplos: moralidade, valores, independência, criatividade, autoconhecimento..


Ou seja, subir cada uma das hierarquias da pirâmide gera, cada vez mais, uma sensação de bem-estar para o indivíduo, porém, muitas vezes, o combustível para subir determinado degrau pode envolver dinheiro:


Necessidades Fisiológicas: não é necessário pagar pelo que se respira, porém, a maioria das pessoas precisa pagar pela água que bebe, pela comida que come e pelo espaço para dormir.


Segurança: do ponto de vista de espaço físico, buscar maior segurança exige, em boa parte dos lugares, maiores gastos. Casas e apartamentos dentro de condomínios, alarmes, cerca elétrica são alguns destes gastos. Do ponto de vista de estabilidade, não precisa-se gastar mais, mas sim, trabalhar para formar reservas de emergência.


Nos demais degraus, o dinheiro não impacta diretamente o alcance das necessidades, mas ele pode impacta-los indiretamente. E, sem ter os dois primeiros degraus bem estruturados, é muito improvável que o indivíduo consiga chegar no topo da pirâmide.


Além das necessidades listadas na pirâmide, Maslow também identificou algumas necessidades complementares: aprendizado, satisfação estética e transcendência. Algumas delas, para serem alcançadas, também exigem dinheiro.


Isto nos mostra como o dinheiro acaba tendo uma relação com o bem-estar do indivíduo. É a partir daí que surge o conceito de bem-estar financeiro.


Mas afinal, maior renda = maior bem-estar financeiro?

O conceito de bem-estar financeiro foi estudado a partir de 2015, pelo Órgão de Proteção ao consumidor financeiro dos Estados Unidos, o CFPB. Antes de qualquer definição, em primeiro lugar é importante afirmar que não há uma relação direta entre bem-estar financeiro e renda. Muita gente afirma que se ganhasse mais estaria mais feliz. Porém, vemos muita gente que ganha muito dinheiro, como jogadores de futebol, cantores e artistas, que podem não ser tão “felizes”, ou ter algum nível de depressão ou ansiedade, dentre outras questões psicológicas.

Assim podemos dizer que aumento da renda pode sim ajudar no aumento do bem-estar financeiro, mas somente se outras condições forem atendidas.


E como fazer para ter (ou não ter) bem-estar financeiro?

A frase acima pode ser uma indagação de muita gente. Porém, o bem-estar financeiro não é algo que um indivíduo tem ou não tem, mas sim um estado que transita numa escala de estresse financeiro absoluto até bem-estar financeiro total.


Seria algo similar à felicidade. Uma pessoa não é feliz o tempo todo, mas sim, a cada momento caminha numa escala. O desafio é tentar manter-se na maior parte do tempo nos níveis mais altos, e, quando estiver nos níveis mais baixos, conseguir superá-lo no menor tempo possível.


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O que define o bem-estar financeiro?

No estudo do CFPB, o que define o bem-estar financeiro é o estado no qual o indivíduo:

  1. Tem controle sobre suas finanças

  2. Tem capacidade de absorver choques financeiros

  3. Tem ações para atingir seus objetivos financeiros

  4. Tem liberdade financeira para fazer escolhas que lhe permita aproveitar a vida

Desta forma, para atingir o bem-estar financeiro, cada um destes pontos deve ser bem desenvolvido. Isto forma quatro grandes pilares:

  • Controle Financeiro: a boa educação financeira é de extrema importância para que o indivíduo consiga ter controle sobre o seu dinheiro, e não “ser controlado” por ele. Este controle é fundamental para que, em primeiro lugar, a pessoa consiga gastar menos do que recebe, evitando dívidas.

  • Tranquilidade Financeira: mais do que conseguir pagar as contas do mês, é importante que o indivíduo também consiga poupar e formar reservas. Imprevistos acontecem na vida de qualquer um, e, podem exigir gastos que estavam fora do planejamento. Para isso, as reservas acabam gerando a sensação de maior tranquilidade

  • Objetivos: todo mundo tem objetivos, mas muita gente não consegue realizá-los, justamente pela falta de dinheiro. Para consolidar estes objetivos, é importante criar um hábito poupar. Mais do que guardar, investir pode fazer o dinheiro trabalhar para você. Mas para isso, é importante que os dois pontos anteriores estejam bem lapidados.

  • Liberdade Financeira: é vista como a fase em que o indivíduo tem a possibilidade de parar de trabalhar por ter recursos que o sustente para o resto da vida. Nesta fase, mesmo continuando a trabalhar, o indivíduo pode extrapolar de vez em quando que suas finanças continuarão estáveis


Para tentar mensurar o nível de bem-estar financeiro, o CFPB criou uma escala que passou a ser usada mundialmente. São feitas dez perguntas que geram respostas que são convertidas em uma pontuação, de 0 a 100, para chegar num índice de bem-estar financeiro. Aqui no Brasil, quem ficou responsável pela mensuração foram a Confederação Nacional de Dirigentes e Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), com apoio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O gráfico acima mostra como está o bem-estar financeiro do brasileiro. Como a escala vai de 0 a 100, repare que a situação não é das mais favoráveis.


Como melhorar o bem-estar financeiro?


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Fonte: SPC Brasil

O gráfico mostra bem a realidade de grande parte das pessoas. Muita gente endividada, pouca gente conseguindo investir bem. Não existe um passe de mágica ou uma fórmula pronta que aumente o bem-estar financeiro da noite para o dia, mas sim, algumas dicas que podem te ajudar.

A primeira dica é o comportamento financeiro. Na teoria a coisa parece muito simples, pois basta gastar menos do que recebe para chegar numa folga financeira. Porém, a prática é muito mais complexa, pois muito além dos conceitos, está o comportamento. E comportamentos financeiros estão relacionados aos hábitos. O que precisa ser feito é consolidar os hábitos de planejar, controlar, poupar e investir, por exemplo.


A segunda dica envolve a busca pela boa educação financeira. Esta base está relacionada ao conjunto de habilidades que a pessoa tem para lidar com o dinheiro. Conceitos e práticas permitirão que o indivíduo saiba tomar as melhores decisões envolvendo o seu dinheiro.


E a terceira dica consiste no autoconhecimento. As pessoas funcionam de formas diferentes e possuem objetivos distintos. Para conquistar altos índices de bem-estar financeiro, é importante que você não se compare aos outros, mas tenha seus próprios padrões. Ajuda também caso você seja persistente, olhe sempre para o futuro e acredite!

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